No final de 2011, quando o Projeto Homens chegou ao fim, minha visão sobre o masculino tinha mudado bastante. Compreendi que ele estava tão oprimido com o modelo tradicional de homem – aquele durão, mulherengo, que o dinheiro e acelerar o motor do carro o faziam se sentir macho – quanto a mulher de carregar a vida familiar nas costas.
Compreendi que a maioria dos homens, pese ao machismo reinante no Brasil, possuía uma admiração profunda pela mulher. Especialmente por muitos deles terem visto a mãe lutar para levar adiante filhos abandonados pelos pais. Essa memória era fonte de inspiração para tentarem ser maridos mais companheiros.
Nos núcleos sociais onde o Poder Antigo, o Poder Sobre, era valorizado – mundo corporativo, por exemplo – ou representava uma forma de sobrevivência – comunidades com alto índice de violência – eram espaços onde esse novo homem, o Homem Sensível como o chamei, tinha pouquíssima chance. Nesses núcleos, o Homem Sensível era visto como fraco, tanto por homens como, importante dizer, por mulheres.
Na sociedade em geral não havia grandes referências desse homem que tentava encontrar formas novas e distintas de exercer sua masculinidade. Isso impedia sua exposição clara. Lembro que naquela época as mulheres tampouco compreendiam a mudança que estava acontecendo com seus companheiros e sem querer, prejudicavam o processo de transformação criticando-o constantemente. Inferiorizando-o.
Sentindo-se acuado e despreparado para lidar com os próprios sentimentos, foi buscar na paternidade o exercício de um amor mais doce e carinhoso. Uma nova forma de amar. Lembro até hoje uma frase de um dos meus entrevistados: “nos olhos do meu filho é o único lugar que ainda me sinto herói”. Sim, ele queria exercer uma nova masculinidade, porém a sociedade, mesmo expressando sua posição contra o machismo, ainda o julgava pelo modelo antigo.
Sete anos se passaram e esse Homem Sensível, fortalecido pela aprovação pública, ganhou as ruas. Hoje, além do carinho e brincadeiras com os filhos o vejo caminhando para a responsabilidade da paternidade. Responsabilidade que o leva cada vez mais a dividir as tarefas, com prazer, do cuidar e educar filhos. Assim, vejo esses homens no consultório médico dos filhos, nas escolas, discutindo a lição, no supermercado acompanhados de filhos sem nenhuma mulher por perto.
Óbvio que há aqueles que ficaram só na brincadeira e no exercício do amor. Um grande passo em relação ao pai distante de antigamente, embora posso notar neles traços de machismo. Ainda delegam a responsabilidade e todas as tarefas de criar filhos para as mães. Mesmo com esses grupos de resistência aos novos modelos – e sempre os haverá – fico particularmente feliz em celebrar o Dia dos Pais, porque foi pelas crianças, filhos destes homens em busca de novos caminhos para a masculinidade, que o Homem Sensível foi se tornando cada vez mais notório e público. Quem ganha somos todos nós. Quantos mais modelos existirem, mais possibilidade teremos de encontrar referências de identidade masculina e feminina que falem com o nosso coração.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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