Paralelamente ao questionamento sobre nossas vidas para buscar a tal felicidade um dos Movimentos Humanos detetados pela behavior é que começamos a nos cansar dos excessos adquiridos na década de 80 e geramos movimentos minimalistas que nos levaram ao lento processo de aprender a eliminar. Foi assim que a frase menos é mais foi ganhando status de cool e moderna.
Nesse caminhar constante como sociedade em transição, estamos no momento que associamos felicidade à liberdade, o que nos leva à entender que o excesso no consumo é um comportamento que pode nos aprisionar (temas abordados nas últimas semanas neste blog). A compreensão de todo este processo está nos levando a fazer escolhas, sinal que estamos amadurecendo e deixando para atrás a ideia imatura que podemos ter tudo na vida.
Mas existe um outro tipo de eliminação de excessos que não necessariamente tem a ver com liberdade mas, entendo, surge por uma mudança no eixo de importância do eu. Vou explicar: no processo de eliminação de excessos mencionado anteriormente o que nos move é a nossa felicidade. Ela é o centro de interesse, ou seja, o eu reina soberado.
Quando ultrapassamos o ponto de supremacia do eu, surge um tipo de eliminação cuja escolha se faz em função de algo a mais do que a minha felicidade: é quando o eu abre espaço para o nós. É a partir da conexão maior com o nós – como sociedade, como planeta – que nossas escolhas terminam eliminando comportamentos que nos dão prazer e promovendo outros que nos dão trabalho. É o que eu chamo de escolha pelo menos é menos, mesmo.
Exemplo dessas escolhas são banhos menos demorados e banheiras desativadas – apesar do prazer que eles possam dar depois de um longo dia de trabalho – em prol da preservação da água; comer a comida da geladeira mesmo que você não tenha vontade para não desperdiçar e jogar fora comida sabendo que há muita gente que passa fome; usar mais tempo a mesma roupa, mesmo que goste de moda e valorize a sensação de vestir algo novo em prol de um consumo mais sustentável; é deixar um balde embaixo do chuveiro para captar a água que se desperdiça enquanto a água quente não chega mesmo que isso mude a estética do banheiro e nos obrigue a carregar o balde para molhar as plantas ou despejar a água no vaso sanitário. Nessas escolhas o resultado muitas vezes é menos agradável ou prazeroso e quase sempre mais trabalhoso. Ou seja, escolhas menos é menos, mesmo.
Quando estamos no nós, fazer essas escolhas parece lógico e o prazer surge a partir de uma outra ética: a ética do coletivo e da solidariedade. Estes comportamentos fazem parte do Movimento Humano Solidariedade que está crescendo a cada estudo que realizamos e que será nosso tema nesta e nas próximas semanas.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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