Esses dias estive no Rio Grande do Sul em mais uma empreitada do Schumacher College Brasil para promover ideias e conceitos que configuram a Economia em Transição.
Tenho escrito frequentemente sobre o momento de transição que estamos vivendo em diversos aspectos de nossas vidas, como consequência da nossa mudança de valores e crenças sociais. Essa transição já vem se refletindo na economia há um bom tempo. Uma das coisas que mais me impressionou quando fiz Schumacher não foi só tomar conhecimento dos diversos modelos econômicos que as sociedades estão criando e organizando, como também, saber do tamanho deles no mundo e no Brasil.
Quem continua no modelo econômico e de transações comerciais regentes, que dita o status quo, nem sempre tem contato com esse mundo. Aliás, mal sabe que existe. Era meu caso. Sempre vi essa economia alternativa ao grande sistema, como periférica e por isso menor. Quase irrelevante. De fato, é menor se comparada diretamente em volume e números. Insignificante? Nem pensar.
Não só pelo crescimento exponencial, como também pela sua força mobilizadora. Na turma que se criou, eu e meu marido éramos, com exceção de talvez mais dois, os mais velhos. A maioria jovem, talvez pelo tema, já estão configurados no novo. E quando falo em novo me refiro ao ‘novo’ no sentido do Movimento Humano Poder Isonômico, que é um dos Movimentos Humanos que descreve, para mim, o coração da desestruturação de crenças que estamos vivendo.
Nesse novo nosso modo de agir, pensar e operar, realmente fazem pouco sentido. O que nos sustenta e nos apresenta perante o outro, nem sempre é validado ou mesmo conhecido por quem está nesses novos sistemas. No plural mesmo. Porque uma das diferenças inclusive é essa. Se antes tínhamos um modelo predominante e tudo o que era diferente era periférico – e menor – agora temos vários. Há mais liberdade no ser e no agir. Inclusive no empreendedorismo.
Sempre haverá os críticos de plantão que usam referência rígidas e estreitas para avaliar o resto, só que o que mais tenho aprendido nestas minhas andanças para descobrir os maravilhosos mundos novos que estão surgindo, é que nestes tempos de transição, os modelos não estão criados e sim em criação, e que a abundância de modelos aponta para o mar de possibilidades que se abre a nossa frente. Ambiente próspero para quem tem coragem de ousar e de criar a partir de seu sentir, de seu background e de sua intuição. Neste novo mundo, as referências externas – sabe aquele modelo típico de benchmarking? – são só referências para alimentar a criatividade e não modelos a serem estudados e seguidos ou negados.
O conceito de sucesso também muda consistentemente. A felicidade, como a descrevo no Movimento Humano A Tal Felicidade, norteia as escolhas, sem o desapego que regia os hippies da década de 60. A turma nova desses novos territórios sabe que o dinheiro é relevante. A maior questão é a forma como eles operam e o que os move. Por mais que já tenha me acostumado nesse meu caminhar de descobertas a perceber que a ordem é outra, o modus operandi distinto e a lógica que me regia até então nem sempre funciona nas relações; sempre é um caminho novo que ainda não sei bem como andar. Se antes esse não saber me faria ser cautelosa, hoje me libera para errar e rir de mim mesma.
Sinceramente, não acredito que um mundo (ou os mundos) substitua o outro, vemos aí um grande movimento de contra-tendência com um moralismo careta e muitas vezes preconceituoso que se alimenta da diferenciação de papéis sociais, ganhando força; mesmo assim uma coisa está clara para mim: o mundo, por mais que se tente, não voltará a ser o mesmo. Quando vejo pessoas, muitas, buscando uma satisfação que não vem só do dinheiro, do status social ou do cargo numa hierarquia corporativa; mas também – já que tudo o anterior também é incorporado – da criação, de dar vida à obra que vem do coração e que está ligado diretamente à busca consciente de promover um ambiente mais sustentável e equitativo; entendo que é um caminho sem volta. E, tal qual a natureza, num ambiente tão diverso, a riqueza e a prosperidade na sua medida certa se manifesta. Nesses maravilhosos e surpreendentes mundos novos, a limitação só se estabelece para quem se rege por ela.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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