O que nos motiva a viver um relacionamento amoroso determina nossa escolha. Cada vez mais me convenço de que os relacionamentos que temos – sejam eles do tipo que forem – nascem a partir de interesses pessoais. Mesmo os mais inocentes possíveis. Algumas escolhas podem ser conscientes, outras inconscientes; daí a importância do autoconhecimento.
Nestes anos todos como pesquisadora, aprendi a identificar alguns grupos de motivos. Existem pessoas que querem, acima de tudo, casar. Sonham com esse estado de vida. Querem constituir família e viver em família. Sua própria família. Existem os que querem acima de tudo ter filhos. Estes, muitas vezes, terminam engravidando “sem querer”. Existem os que querem crescer financeiramente, os que querem ser aceitos socialmente, os que querem andar pela vida a dois, os que querem um companheiro de aventura, os que querem um companheiro para se fixar estavelmente, os que querem fugir do lugar onde estão, os que acreditam que amar é sofrer... e por aí vai.
Os motivos estão conectados com nosso estágio de vida, o momento que estamos vivendo e as crenças relacionadas a ambos. Crenças que foram sendo inseridas nas nossas vidas desde que nascemos. As crenças são construídas através da narrativa que nossa família tem sobre a vida humana e a sua própria história; narrativa que por sua vez é influenciada pela da sociedade em que vivemos, a do nosso país, a do nosso tempo na história da humanidade.
As crenças dão vida e forma aos nossos valores. Não é à toa que sou uma das que levantam a bandeira da diversidade de narrativas. Várias, diferentes, não só a atual ou a sua versão contrária. A oportunidade que se abre à nossa frente quando descobrimos que existem outras possibilidades de ser é uma das preciosidades que a vida nos oferece.
Saber o que nos motiva hoje a escolher um novo amor pode nos poupar de muitas decepções. O que você espera da sua vida, nos próximos anos? O que você sonha? Toda escolha significa abrir mão de algo ou de várias coisas. Por isso costumo dizer que escolha é perda. Sendo assim, do que você abriria mão para obter o seu sonho? O que é menos importante?
A sabedoria de um relacionamento estável e feliz tem a ver com a compreensão dos nossos limites, daquilo que estaríamos dispostos a abrir mão para seguir em frente, e daquilo que seria impossível deixar para trás. Tem pessoas que só entram em enrascadas amorosas. Saem de uma terrível, e parece que a próxima é pior. Essas pessoas costumam acreditar que o amor é traiçoeiro, que amar é sofrer, que ser enganado faz parte de ser uma pessoa do bem. Se acreditam nisso, farão escolhas que o comprovem. Esse é o poder que as crenças têm sobre nós.
Está errado se relacionar por interesse? Na minha opinião: de jeito nenhum. O interesse é fundamental para as escolhas. E todo relacionamento é uma escolha. A relação precisa de troca e, quando esse intercâmbio energético de ideias, sonhos, objetivos, caminhos, comportamentos e ações vem na forma que coincide, em grande parte, com nossos valores, tudo fica mais fácil. Tudo fica mais sereno para deixar nosso esforço dirigido a outras áreas da nossa vida. Nesse momento, o nosso relacionamento se torna o chão que nos sustenta para ir adiante.
Se esse não é seu caso, talvez valha a pena se perguntar se você é do tipo de pessoa que acredita que o amor intenso tem a ver com instabilidade. Se esse tipo de relacionamento montanha-russa faz você se sentir vivo. Ou se a instabilidade e insatisfação interna, criada por temas que você se nega a tratar no seu íntimo, não é jogada contra os mais próximos – nesse caso, o seu amor.
Seja qual for a sua situação, se você quiser sair ou se manter nela, vale a pena colocar uma boa dose de atenção ao que vem te motivando ultimamente. Compreender e aceitar que as motivações mudam com o passar do tempo. Isso é viver. É natural. É humano. O amor pode atravessar todas as fases, em liberdade, se soubermos alinhar nossas motivações com quem está ao nosso lado. Não é fácil, mas é simples.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
2 Comments
Adorei o texto, Nany! É isso aí!
Beijos
Sara
Fico feliz que tenha gostado!
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