Quando converso sobre feminismo com executivas fica nítido para mim, o incômodo que esse conceito causa. Vejo que para a maioria existe o desejo de não ser associada a ele, especialmente dentro da organização na qual trabalha. Ser vista como feminista é como escolher colocar um chapéu que tenha escrito: problema. E, provavelmente, ela tem razão.
Gostaria de lembrar a essas mulheres executivas que, em todo momento de transição de valores sociais, como o que estamos vivendo, cria-se um ambiente de incertezas, de dúvidas sobre o que é certo e o que é errado. A insegurança e o medo são sentimentos que se intalam em pessoas comuns. Esse ambiente exige dos líderes uma postura firme em relação aos valores que eles representam e desejam representar. Aliás, é o que se espera de um líder e o que o caracteriza: ser quem indica o caminho a seguir de forma clara, consistente e firme. Lembrem-se: é em momentos de incertezas que a postura de um líder se torna a referência que os outros seguirão.
O lugar de líder não é um lugar fácil. Podemos valorizar o líder democrático, acessível, afável e humano. Só que essas qualidades, cada vez mais incentivadas, não inibem a necessidade de ele ser firme nas suas convicções. Até porque é essa firmeza que convence os seus liderados, mais do que lindas palavras. Lembrem-se ainda de que em tempos de incerteza é essa firmeza que trará segurança. O líder está num lugar de exposição – pelo qual muitas vezes lutou bastante – justamente porque ser considerado o exemplo que irá guiar os liderados. Portanto, ele precisa ocupar esse espaço com propriedade e coragem.
Tenho escrito bastante sobre coragem porque acredito que o momento exige essa qualidade mais do que em outros tempos. Especialmente dos líderes ou de quem quer se tornar um. E é exatamente tomar coragem que boa parte das mulheres executivas precisa para assumir claramente sua postura em relação ao machismo. Porque feminismo trata explicitamente disto: é a postura que combate o machismo. Não tem nada a ver com os conceitos espalhados, provavelmente mal-intencionados, que buscam associar o feminismo à mulher que é contra os homens, que deseja subjugar o masculino ou que é, necessariamente, uma pessoa agressiva e sem feminilidade.
Como tomar coragem? Costumo recomendar para as mulheres executivas duas atitudes necessárias para quem quer começar: informar-se – e aqui me refiro a se preparar mesmo – em fontes consistentes e sérias. Através desse conhecimento, organizar-se internamente para estar pronta para situações delicadas que exijam uma postura de acordo a sua posição. Como todo executivo sabe, cada novo nível na organização requer novos atributos e habilidades. É comum o executivo se preparar tecnicamente para cada novo desafio, não é mesmo? É hora de entender que a equidade de gênero não tem volta e que mundo corporativo está querendo acelerar seu caminhar até esse objetivo. Basta acompanhar as notícias como a que o banco Goldman Sachs anunciou no Fórum Económico Mundial em Davos: que somente irá realizar IPOs para empresas que tenham pelo menos uma mulher em seu Conselho. Como todos sabem, para chegar ao cargo de Conselheira numa grande empresa, é necessário ter passado pelo C Level. E para chegar ao C Level é necessário subir na hierarquia. O mundo corporativo precisa das mulheres dispostas a enfrentar esse desafio agora!
A segunda recomendação é se unir com outras mulheres da organização. Usar e incentivar a já famosa Sororidade. Para isso é preciso trabalhar suas próprias resistências, conscientes e inconscientes, às mulheres. Promover a abertura de diálogo, bem como momentos de encontros, discussões e conhecimento, proporciona um sentido de grupo que empodera e fortalece a coragem individual.
Ser líder em tempos tão ricos de mudança e transição de valores significa assumir um compromisso moral com a sociedade e com todos as mulheres e os homens que vêm após nós. É ocupar plenamente o nosso lugar de privilégio social e corporativo. Seguir a nossa ética interna como guia e agir. Apesar das críticas, das piadas, dos olhares, das resistências. Até porque ser líder é conseguir passar por cima disso e fazer o que precisa ser feito.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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