Muitas pessoas ficam presas a amores vividos no passado. Amores que se transformam em grandes roteiros que conduzem suas vidas. Os anos passam, possíveis novos amores chegam, mas aquele amor que ficou no passado, torna-se, injustamente, o que valida o futuro amor. Nesse cenário, é quase impossível, novos amores se tornarem realidade. Não há como competir com alguém que não está mais aí para viver toda a complexidade de uma relação. Com alguém que de certa forma, já está morto.
A memória costuma romantizar a realidade vivida. Ou dramatizá-la. Dificilmente o passado foi conforme o lembramos. Como humanos e seres sociais, temos a vocação de contar histórias e alimentar mitos. Quando queremos fugir do presente e encarar o futuro, costumamos romantizar e idealizar o passado ao ponto de encararmos a vida atual como algo difícil de ser vivida. O passado sempre se apresenta melhor do que o presente.
É isso que acontece com os amores vividos que ficaram no passado. Quando temos medo de viver um novo amor, mesmo com motivos legítimos, costumamos criar barreiras para nos abrir novamente ao amor. E uma das barreiras que mais ouço das pessoas com que converso ou entrevisto é manter vivo um amor que já se foi. Ao comparar um amor do passado com o presente, estamos injustamente querendo imaginar que o hoje é igual ao passado. Nem a gente é igual ao que fomos no passado. Com os anos costumamos mudar. Aliás, se espera que isso aconteça.
Os amores vividos no passado, por mais intensos e prazerosos que eles tenham sido, deveriam ser lembrados somente como etapas da nossa experiência no amor. Lembranças que nos ajudam a entender o que nos faz bem e o que nos faz mal. Do que funciona no dia a dia para nós. Do que é realmente importante para continuar a conviver a dois. Desta forma eles se tornam base sólida para viver o novo amor. Quem sabe, o próximo seja o mais duradouro deles. Quem sabe não. Mesmo assim, ao carregar conosco a experiência e as lembranças sem idealizá-las, seremos pessoas mais preparadas para viver um grande amor.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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