A tarde ensolarada e quente em Londres serviu de pano de fundo para um almoço delicioso no último domingo da nossa viagem. À medida que entrelaçávamos temas diversos, a diversidade oriunda de faixas etárias e nacionalidades distintas iam tornando nosso encontro rico e adorável.
À medida que íamos aprofundado as trocas, não pude evitar perguntar ao mais velho de nós, na faixa dos 80 aparentemente bem vividos, o que esperaria do amor a essa altura da vida. Respirando fundo me disse: lealdade.
A resposta pode não surpreender por ser um grande desejo coletivo. As relações ao se tornarem mais “líquidas” nas últimas décadas, para usar a terminologia do sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman, tenho percebido nos meus estudos o crescimento do desejo por maior lealdade. Contraposição comum após um período em que estressamos uma tendência. Porém, vindo dessa pessoa, o desejo de lealdade pareceu tomar um sentido maior. Fiquei refletindo sobre o que deve ser estar ao redor dos 80 anos com saúde, lucidez e mobilidade plena. Ainda, com uma vida financeiramente bastante confortável. Será que ainda apostaria no amor?
Quando o escritor peruano Mario Vargas Llosa, na época com 79 anos, anunciou que estava se separando da sua mulher após 50 anos de casado para assumir um relacionamento com Isabel Presley, pensei na alegria que deve ser estar novamente apaixonado nessa fase da vida. Como a vida deve ter mais colorido e o desejo de viver se tornar novamente intenso. Pensei no primeiro beijo, na primeira transa.
O tinha visto num evento mais o menos nessa época e continuava firme, altivo, lúcido e sagaz. Como sempre foi. Porém, com 80 anos. Por mais vigor que se tenha, a realidade é um corpo que já viveu todo esse tempo. Como disse em outro post, mesmo com medicamentos e intervenções cirúrgicas, cada célula de nosso corpo tem o tempo que temos.
O que é um amor perto dos 80? As relações se estabelecem pela troca. Inclusive – ou talvez, especialmente – nas relações amorosas. Como já escrevi, as relações precisam de troca, o amor não. Qual é a troca com alguém dessa idade? Sabedoria? Conhecimento? Experiência? Serenidade? Estabilidade emocional e financeira? Comer, viajar, descansar? Se ambos forem da mesma faixa etária, é mais fácil existirem trocas equilibradas. Mas quando isso não acontece?
Cada faixa de vida pede uma troca diferente. Muitos casais se separam, mesmo com amor no coração, porque os interesses vão se distanciando e as trocas começam a não ser mais justas. Por isso deixo aqui questão para refletirmos: qual é a troca que você gostaria de ter na sua próxima faixa etária?
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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