Amor. Todos queremos, todos sonhamos. Muito mais em ser amados do que em amar. Amor tem a ver com entrega. Amor tem a ver com responsabilidade. O amor é uma energia que se retroalimenta com o exercício de amar. Quanto mais amamos, mais sentimos o amor dentro de nós. Ser amado acalenta a alma. Pena que não dependa só de nós o outro nos amar. O que realmente está nas nossas mãos é amar. O amor, acredito, vem com a gente. Desde que nascemos. À medida que vamos aprendendo a ser um ser no mundo é que aprendemos a forma como iremos expressar nosso amor. Pode ser mais aberto, carinhoso; pode ser mais fechado e silencioso. Nosso núcleo familiar é quem nos ensina quais são as formas de expressar o amor.
Relacionamentos. Todo mundo quer, todo mundo sonha, especialmente quando ele vem representado por um par romântico. Temos medo da solidão num mundo que nos ensina que o melhor sempre é estar a dois. O que pouco entendemos dos relacionamentos é que eles são intercâmbio de interesses. Nos relacionamos, na maior parte do tempo, com aquilo que nos interessa. Quando os relacionamentos estão ancorados na ideia de par romântico, costumamos entrelaçar tanto amor com relacionamentos que viram uma coisa só. Precisamos mantê-los cuidadosamente separados, embora sejam tão próximos. Assim, poderemos compreender e agir quando nossos interesses mudarem com o passar dos anos.
Interesses. Eles têm a ver com ciclos de vida. Alguns mencionam ciclos de sete anos, outros de dez. Não acredito que seja tudo tão matemático assim, embora faça sentido considerarmos um tempo mínimo para que as mudanças se manifestem. Interesses têm a ver com o processo de maturidade que vamos vivenciando com os anos. Fatos nos fazem amadurecer e nos obrigam a mudar de rumo. O corpo vai mostrando seus limites. Os desejos e sonhos se modificam. A forma como vemos o mundo e nossa vida nele se altera. Os interesses têm a ver com o que vemos e como vemos o mundo. Sendo assim, se nossa forma de ver o mundo e a nossa vida mudam com os anos, é provável que nossos interesses também mudem. Por consequência, a forma de nos relacionar será diferente. Por que, então, não mudaria a nossa forma de viver um relacionamento a dois?
É sábio mudar. É sábio se abrir para isso. O casal necessita de diálogos que abordem a mudança de interesses. Especialmente quando se vislumbra o ciclo da terceira idade lá na frente. Tempo em que os filhos estão mais velhos e a busca pelo equilíbrio financeiro está mais conhecida se não, superada. O vazio comum que vejo em algumas relações nessa fase de vida deve-se à falta de preencher a vida com novos interesses e alinhar esses interesses com a vida a dois.
De um lado, percebo a dificuldade em se abrir para o novo. Sair da rotina que nos traz conforto por ser conhecida. Por termos desenvolvido habilidade para lidar com ela. Num mundo em constante ebulição, novidades sempre há. Coisas novas são jogadas ao vento todo dia. Basta ser curioso o suficiente. Curiosidade vem da mesma raiz da palavra Cura em latim. Vale sempre lembrar. Ser curioso nos ajuda a modernizar-nos. Olhar o passado como o território onde as coisas sempre eram melhores, é buscar o caminho da depressão por escolha. Para quê? Sadomasoquismo? Se nos amamos, então bola para frente. Neste grande e vasto mundo de Deus, sempre haverá algo novo para despertar novos interesses em nós.
Nesse momento de meia-idade e de abertura ao novo, indico procurar atividades que preencham a alma, como eu digo. Não tarefas. Embora muitas vezes essas atividades venham através de tarefas. Só que a ideia não é se ocupar – preencher a agenda – com medo do vazio. Mas, sim, buscar atividades que nutram, tragam motivações para continuar a viver de forma ativa e feliz. Que deem sentido à nossa vida.
Uma vez feita esta descoberta, compartilhar com o nosso par é fundamental. A ideia é que ambos busquem novos interesses nessa fase de vida. No processo de se descobrir com meia idade, vamos descobrindo novos interesses. Se os interesses forem iguais, ótimo. Pode ser fazer juntos. Se não, também. A gente não fica grudado vinte e quatro horas por dia com o nosso par, não é mesmo? Um certo distanciamento ajuda a sentir saudade. Temos coisas novas para trocar no fim do dia. Os interesses só não podem ser contraditórios. Só não podem ser motivo de distanciamento ou que crie desentendimento ao casal.
É nesse momento que a sabedoria da meia-idade precisa ser chamada a participar do diálogo e da relação. O que fazer quando cada um quer coisas bem distintas que implicariam no fastamento do casal? Avaliar. O quanto esse querer é tão forte a ponto de valer a pena. Esperar que o outro ceda em nosso benefício é egoísmo. Ser egoísta é um direito que todos temos. O nosso par tem o direito de avaliar se quer isso para o resto da vida.
Quando amamos, e nos amamos, somos capazes de ceder se reconhecemos que é algo realmente importante para alimentar a alma do outro. Sabemos o ponto em que esse querer vira egoísmo. Temos capacidade de discernir. Cedemos até o momento em que não nos faz mal. A partir desse ponto, o outro precisa ceder. Ceder sem cobrar o dobro lá na frente. É sobre essa negociação que tratam os novos ciclos. Com sabedoria, amor próprio e amor pelo outro, fazemos novas escolhas que dão novo sentido à relação. Todos sabemos que só ser pai ou mãe, avô ou avó é insuficiente, apesar da sua importância. Precisamos encontrar interesses individuais que nos façam continuar a dois. Até o próximo ciclo.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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