Cada um de nós tem um tipo de relação com a vida e por consequente, com a saúde e a beleza física. Estou entrando na meia idade com atenção total a tudo o que se passa nos meus corpos físico, emocional e intelectual. O que está claro para mim até agora, é que ficar mais velha requer muito mais de sabedoria do que de força e resistência física. E essa transferência de fonte de recursos leva um tempo para aprender.
A sabedoria ajuda a escolher em quais batalhas entrar e quais deixar passar. Contribui para fazer os trade off necessários para que o dia seguinte seja tão bom ou melhor do que o hoje. E para isso precisamos administrar bem os recursos disponíveis. Por exemplo, deixar de beber a tempo de evitar uma ressaca que acabe conosco ao dia seguinte. Ou ir dormir a tempo de estarmos inteiros para produzir bem no dia seguinte.
A sabedoria acumulada com as experiências da vida também nos ajuda a reconhecer as relações que nos nutrem e quais nos desgastam. Nos lembra que o sonho pode e deve ser grande, e que a realidade costuma ser menor. E que isso não deve nos frustrar. Faz parte da vida. Pensar grande nos leva mais longe do que pensar pequeno. A gente aprende que não dá para ter tudo na vida, e que tudo que temos muitas vezes é o suficiente para ser feliz.
O lado físico é um dos aspectos mais complicados para a maioria. Num país que ainda valoriza a juventude acima de quase tudo; ser velho é quase um desrespeito à sociedade. Encontrar o equilíbrio entre o cuidado e a negação a idade, penso que é uma das tarefas mais árduas. Infelizmente, vejo poucos se dando bem nela. Ou ficam acabados e descuidados ignorando o corpo físico ou ficam parecendo velhos que só eles acham que ainda são jovens.
Qual é a medida? Essa reposta é muito pessoal. Tem pessoas que colocam todo ou quase todo seu valor na aparência física ou sua potência quase explosiva de ação. Para eles, só um recado amoroso: mesmo com todos os treinos possíveis, drogas, procedimentos cirúrgicos e roupinhas de jovens, as células do nosso corpo estão envelhecendo todo dia um pouco mais. Ponto.
Encontrar beleza na meia idade e na velhice é um dos grandes desafios de uma geração que irá viver mais. Muito mais. Passa por pequenos ajustes como encontrar a roupa certa que dissimule as gorduras que a queda de hormônios traz num mercado que vende decotes e roupas justas. Passa por buscar a produtividade com a consciência que será na qualidade da entrega o pulo do gato. Passa, afinal, por descobrir qual é o nosso valor nessa faixa etária. O quê de melhor acumulamos até agora que possamos oferecer? Estar em sintonia com as limitações e oportunidades que nosso corpo físico nos traz a cada dia, pode ser um bom início para responder essas questões.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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