Novembro se inicia neste disruptivo ano de 2020 nos lembrando que o seu fim está chegando, embora saibamos que o estado de incertezas que se instalou com a pandemia da Covid-19 continuará por um bom tempo.
As semanas vêm se sucedendo sem nos dar fôlego, deixando nossas emoções à flor da pele, como com os casos do jogador Robinho e da influencer Mariana Ferrer, que escancararam, mais uma vez, que a luta pelo fim do machismo estrutural dentro da nossa sociedade moderna – moderna? – está longe de acabar. Como toda sombra se mostra quando há luz, a seguir admiramos felizes que o avanço da humanidade acontece apesar de tudo: Kamala Harris é eleita, se tornando a primeira vice-presidenta mulher + negra + asiática dos Estados Unidos.
Montanha-russa de emoções e sentimentos, e fica a pergunta: será que iremos nos acostumar a estes tempos dicotômicos, ou talvez “multicotômicos”, que nos impõem escolhas que talvez não queiramos assumir? Diversos e plurais, como a humanidade sempre foi, apesar dos que arquitetaram – bem-sucedidamente, devemos concordar – esconder isso.
A quais escolhas estou me referindo? Às que se relacionam ao progresso e ao atraso. Sim, porque, como disse Fernando Henrique Cardoso, ser conservador não significa ser atrasado. As nossas escolhas, neste momento especial da nossa história como humanos que habitamos um mesmo espaço chamado planeta Terra, se referem a valores.
No fundo é de valores que estamos tratando, valores transvestidos de pandemia, saúde, economia e justiça. Como por exemplo a ideia de direito à saúde para todos ou a opção da “imunização do rebanho“, que nada mais é que permitir que os mais fracos possam – devam? – morrer e os mais fortes sobrevivam. Alguns usam o argumento da “sabedoria” da natureza para justificar essa escolha. Como humana não consigo me comparar com os animais ou com a natureza sistêmica, e não porque me considere superior. Muito pelo contrário. Os animais não matam por prazer nem por sadismo como os humanos. A natureza se reorganiza e retroalimenta, como mostra a agrofloresta.
O quanto estamos dispostos a mudar do Eu para o Nós em prol de uma sociedade mais justa e, por consequência, menos violenta e menos perigosa? O quanto cedemos um pouco para promover mais inclusão e o todo ser melhor para mais pessoas? É disso que trata estes tempos de escolhas. Assim, além do seu discurso político entre amigos, te convido a olhar para você e refletir de qual lado você está? Quais são as tuas escolhas?
Soubemos que uma nova vacina contra a Covid-19 está pronta e, ao mesmo tempo, sabemos pela ciência que novas pandemias continuarão a nos assolar até que entendamos que o desmatamento e o descuido com a natureza arranham a segurança da nossa biodiversidade, deixando os seres mais frágeis expostos: nós, humanos. Mas os que pensam no dinheiro das terras provenientes do desmatamento e do que elas podem promover – mais e mais bens de consumo e diversão – não conseguem olhar o que estão provocando. Ou pior: olham e acreditam que o seu dinheiro irá livrá-los de todo perigo.
Sim, nós, humanos, temos nosso lado sombra e nosso lado luz. A nossa história mostra claramente a nossa capacidade de maldade e destruição e, simultaneamente, a nossa capacidade de amor, compaixão, doação e reconstrução. Nestes tempos de escolhas, qual desses dois lados você irá alimentar?
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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