Tanto tempo observando as lideranças no mundo corporativo me ensinou que poucos conseguem suportar a vertigem da escalada rápida. A vaidade, tão bem promovida pelo mundo corporativo, como forma de capturar os profissionais capazes de gerar lucratividade, pega praticamente, todos. Como escapar? Difícil.
Os anos de observação também me ensinaram que mais importante do que não cair na armadilha do ego e da vaidade é, saber sair dela. O mais rápido possível. Para isso o apoio de pessoas próximas é fundamental. São elas, as que nos amam pelo que realmente somos e não necessariamente pelo que nos convertemos, que nos alertam. Nos avisam que algo está indo mal. Pena que muitos se afastam dessas pessoas.
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Aqueles que se afastam começam a se rodear do que eu chamo de “corte”. Pessoas que bajulam e incentivam a ilusão do todo-poderoso, do perfeito. Do escolhido. Quanto mais na ilusão, mais a corte ganha. Mais o lado humano do líder perde. Perde porque se distancia da realidade. Se distancia da emoção. O líder egoico e vaidoso anda sempre no mental. É na mente que ilusão habita.
O Sentir, onde a emoção e os sentimentos residem, e cuja conexão nos alerta que não estamos bem, fica ofuscado pela irrealidade criada pela ilusão.
Provavelmente haverá um tombo lá na frente. E esse tombo nem sempre vem pelo mesmo código: pelo sucesso profissional. Às vezes, ele vem pelas relações corrompidas com a família e os amigos. Pela solidão de não saber se a companhia é por amor ou interesse. Conheço vários assim. Estão tão acostumados a serem amados pelo que representam que quando são solicitados a dar o que são, não sabem mais quem são. Muito menos oferecer algo genuíno.
Para os que voltam rápido para o equilíbrio, entre o ser e o estar, cabe aprender a identificar os gatilhos que acionam a vaidade.
É um longo, e porque não, eterno aprendizado. Precisa de autoconhecimento e consciência. Principalmente, do desejo profundo de não errar. De não trair a sua alma. De ouvir o seu Sentir.
Muitas vezes vejo nos olhos desses líderes um lampejo de súplica. Um pedido de ajuda. Também aprendi com o tempo, que na maioria dos casos é só um lampejo. Pelo menos por enquanto. Precisa de muita força para quebrar o mundo da ilusão. Por que? Porque ele é bom. É gostoso e agradável. Se saber menor do que pensamos que somos é para fortes de espírito.
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Assim, por consequência, se há em você o desejo de sair da ilusão, de viver a realidade na sua perfeita imperfeição, busque seus amigos de alma. Você sabe quem são. Busque fortalecer o espírito. Busque sair da bolha que o mundo corporativo – embora não seja só ele – traz. Busque ser visto com indiferença ou até como inadequado. Estar sempre adequado, com a resposta certa no momento certo, pode ser um claro sinal que você anda pelos mesmos lugares. Mesmas experiência trazem as mesmas respostas. Para quem quer sair da ilusão, a busca por respostas diferentes e desafiadoras é o caminho de retorno à sua essência.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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