Ah, o amor romântico! Reinicio meus textos após um período de descanso homenageando esse tipo de amor na semana que celebramos o Dia dos Namorados. Podemos querer ser independentes, podemos querer ser livres e autônomos; podemos ter o sonho utópico da escolha ilimitada sobre nossas vidas ou acreditar piamente no destino previamente traçado, mas seja negando, seja aceitando, seja racionalizando, ou mesmo seja buscando-o loucamente, o Amor Romântico nos persegue como um fiel cachorro desde que foi criado com o Romantismo, movimento artístico, político e filosófico, no final do século XVIII, início do XIX.
Desde então, amar e ser amado com certa dose de sofrimento que será compensado pela vivência do amor sem limites e duradouro além de nossas vidas terrenas, vem nutrindo nosso imaginário de vida; gerando em nós o aspiracional que provavelmente nos levará à frustração. Que o abençoado Santo Antônio o diga! Virado para baixo, virado para cima, dentro de um copo de água, de castigo ou no altar em agradecimento; esse santo casamenteiro continua sendo chamado para atender as almas solitárias que tanto buscam o aconchego da relação a dois. E não que amar romanticamente, é bom mesmo?
Estar apaixonado faz o dia ficar mais leve e bonito, sim. Rimos com facilidade, nossas emoções ficam mais evidentes, nossa sensibilidade aumenta e o senso de ridículo diminui, inevitavelmente. Aquilo que até ontem nos parecia cafona e piegas começa a fazer sentido. Estar ao lado da pessoa, parece a coisa mais importante a se fazer na vida. Podemos tentar ser racionais, profissionais e manter a postura de certo distanciamento para os outros; colocar aquela cara de intelectual que pouco se abala, mas, para que mentir para nós mesmos se o que desejamos, no fundo, é correr para estar ao lado do nosso amor?
Dizem que a rotina mata o amor romântico. Dizem que o amor romântico eterno só existe porque um dos dois morre cedo… seja qual for a razão, o amor romântico parece ser fadado ao fracasso engolido pelo lado prático da vida. Será que o amor romântico não poderia ser equilibrado com um pouco de praticidade? Será que a vida com a sua correria e suas obrigações que exige de nós escolhas, esforço, raciocínio lógico e boa dose de praticidade não pode ser combinado com o amor romântico?
Pois eu penso que sim. A vida cotidiana precisa de poesia. A vida precisa de leveza, de sonho, de fantasia. A vida precisa de atos ridículos, de risos nervosos, de gestos inofensivamente impensados. A vida precisa de vida. E a vida é tudo isso, responsabilidade e loucura, bobagem e seriedade, doçura e firmeza. O ponto é a dose com que temperamos cada um desses aspectos. Sem essa mistura, a vida fica seca, dura, árida. Insuportável.
Feliz tempo do amor romântico para todos nós.
Nany Bilate é pensadora intuitiva e pesquisadora. Seus estudos e textos são focados na transição de valores e crenças da nossa sociedade. E sua interferência nas identidades feminina e masculina contemporâneas.
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